sábado, 23 de abril de 2016

Numismática

      Não é  segredo que nos últimos anos venho acumulado algumas antiguidades, seja máquinas de escrever, livros antigos, canetas e outros artefatos, mas gostaria de compartilhar uma paixão que surgiu repentinamente esses tempos e que vem sendo avassaladora. 

       Ultimamente tenho me dedicado à numismática, uma ciência antiga que determinava o estudo dos detalhes e do acabamento de moedas, um ramo análogo á arqueologia, o estudo das moedas determina a representação pictórica de uma sociedade e sua representação simbólica de construção identitária. 

         Foi a partir da numismática que aprendemos tanto sobre os fenícios, os povos do Oriente Médio na Antiguidade e sobre a Idade Média. Minha paixão em colecionar moedas é ainda primitiva, em todo caso, mas gostaria de compartilhar algumas moedas latino-americanas que adquiri nesses últimos tempos.


Moeda comemorativa a Bernardo D'Higgins, 1975. República do Chile

        Essa moeda curiosamente tem a fabricação no último ano de mandato de Salvador Allende, antes de ter sido deposto por Augusto Pinochet no dia 11 de setembro num golpe televisionado para todo o mundo. O resgate de Bernardo D'Higgins curiosamente reforçava uma lembrança da Guerra do Pacífico e do caráter nacional chileno que parecia estar sendo dinamitado naqueles tempos pela atividade golpista orquestrada (hoje sabemos) pela CIA.


República de Chile, 100 pesos, 1992 
      Essa moeda de 1992 é feita em comemoração ao descobrimento da América, e mostra a suntuosidade que os últimos anos do regime de Pinochet gostaria de demonstrar, mesmo com a desvalorização da economia chilena imposta a cabo com anuância do neoliberalismo da época. Essa moeda demonstra que a despeito de serem os últimos anos da ditadura, o regime de Pinochet desejava ainda manter o caráter simbólico de construção nacional.
Moeda de 1 peso da República Argentina, 1959
        Essa moeda de 1 peso da República Argentina de 1959 tem uma história curiosa, em uma gravura simples, mas ainda assim icônica que representava o centenário da independência. Essa moeda representa a República Argentina após a Exposição de Buenos Aires que comemorava a formação da Confederação Argentina, feita por Perón em 1954.

       Perón foi derrubado em 1955, mas o seu legado nacionalista perdurou e se manteve na cunha das moedas, no governo da União Cívica Radical, com a estabilização eleitoral de Frondizi. Após um período conturbado após o golpe de Perón, a produção de moedas seguiu esse formato até 1962, quando novas séries de moedas passaram a ser produzidas em comemoração ao centenário da unificação argentina no projeto mitrista.



Moeda comemorativa ao General Artigas, República Oriental do Uruguai, 1965

         Essa é a minha favorita, embora esteja mais deteriorada. A moeda sofre um processo de oxidação ocasionado pelo contato do níquel com o cobre e o estanho, levando a uma perda de sua coloração. A lasca demonstra a falta de cuidado que tinham por essas moedas na época, embora fosse uma moeda comemorativa do bicentenário de nascimento do General Artigas, herói e fundador da República Oriental do Uruguai.

         O Uruguai em 1965 era um bastião da legalidade e da democracia na América Latina e um refúgio contra as ditaduras que nasciam no Cone Sul. Até hoje esse legado, a despeito da triste ditadura que se prolongou naquele país na década de 70, manteve o caráter progressista das  constituições uruguaias até hoje, tal como o sonho de Artigas por liberdade.

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