quarta-feira, 11 de maio de 2016

Perdi

Perdi a caneta
Uma pequena caneta
E com ela perdi o meu respeito
Por tudo que a despeito
Perdi sem muito jeito
O afeto que tinha por você


Perdi o confeito
Perdi o seu beijo
Perdi a chance
De ter ficado no convento


Devia ter ficado calado
Não devia ter apaixonado
Devia por namorado
Mas tudo isso é passado

Perdi o amor
Perdi a dor
Perdi a rima
Perdi e perdi


Perdi você
Perdi de novo você
Perdi a chance
De ter dito
Que te amava

Perdi o calor de seus olhos
Perdi o sabor de sua boca
Perdi o odor de sua nuca
Te perdi numa piscada
E logo perdi a esperança

Te perdi
Não quero te encontrar
Te perdi
E hoje vendi o que sentia
Para um mascate por metade de um terno
E meia fatia de queijo bolorento
Meu amor não vale mais do que o vento
E o meu poema não tem traço violento


Adeus... E adeus, Perdi a perca e a apaixonei a perdição.
Adeus, adeus, coração.

sábado, 7 de maio de 2016

Tique

          Acordei pontualmente às 7h32 da manhã de quarta. Engraxei os meus sapatos com a graxa Nugget, cor madeira. Passei o brilho e arrumei o cadarço do meu sapato de couro. Arrumei minha cama, fui ao banheiro escovar os meus dentes e tomei banho. Me arrumei e tomei café, estava perfumado e pronto para o mundo. 

          Saí e fui trabalhar, peguei um engarrafamento, cheguei atrasado. Pouco importa, fiz o que deveria ser feito, visitei os clientes e passei o dia todo conversando sem entusiasmo, mas ainda distribuindo sorrisos falsos. O sorriso é a máscara de um sofredor.  Meio-dia, almocei sozinho como de costume e escolho sushi... Odeio peixe, mas aprendi a gostar de sushi, quando pego o hashi, meu telefone toca. Quem poderia ser?

        Ninguém, era ninguém. A operadora de telefone me incomodando de novo. 12h12, você estava online. Desligo o telefone de raiva. Vou comer ainda mais mal-humorado do que de costume,  você ria quando eu ficava sem humor. Devia ser realmente engraçado.

       Decido que não vou pensar em mais nada e a tarde deve ser minha. Vou a biblioteca e leio um livro, o Medo à Liberdade, e me sinto feliz com as primeiras páginas, o telefone toca. Não é você... 16h16, vou para fora e converso com outra pessoa, quando percebo marco de sair. Ótimo. Melhor assim.


       Volto para casa, tomo um banho e saio. Tique. São 19h19, estou atrasado. Corro imediatamente as escadas e esqueço o perfume, subo novamente. Escovo os dentes apressados e ajeito meu cabelo bagunçado. Pressa, é um encontro.

       Aviso pelo Whatsapp que vou atrasar e pelo Waze procuro uma rota. Rápido, coloco na rádio Verde-Oliva, toca a Voz do Brasil. Inferno! Coloco um jazz para tocar, melhor assim, Miles Davis para animar.


        Corri e cheguei tarde, 20 horas. A pessoa com que marquei estava estressada, lia o Facebook e não deu a mínima importância. Comemos juntos um prato árabe, um falafel que não era falafel e uma esfirra que não era esfirra. Comida horrível! Não sei como as pessoas gostam disso. Conversamos e ela ficou animada, queria ir ao cinema e fomos assistir Sicário. 

        Sessão cheia, sem graça e motivação. Sicário é um excelente filme, mas a companhia não. Saio sem qualquer entusiasmo, mas me ofereço a levá-la em casa... Ela me beija e tique... 23h23.


         Taque. Quando chegamos em sua casa, ela me convida para subir em sua casa; Um apartamento apertado numa parte do centro, ficamos juntos mas ela não sai do whatsapp. Burocraticamente nos beijamos, mas ela estava sem saliva na boca. Ela se despe sem cerimônia e meio sem entusiasmo, se deita na cama de costas, me dispo calmamente e tiro meus sapatos engraxados.

        Dou-lhe uma massagem, beijo seu corpo, mordo seus ombros. Como você me ensinou, ela finge gemer, o celular continua na cama. Fito aquele aparelho com vergonha. Roço meu corpo com o dela, beijo-a de lado, ela continua parada. Seus olhos estão distantes, parece cansada. Beijos e beijos sem entusiasmo.

       Fizemos amor burocrático, daqueles que os casados costumam fazer, o celular continua a tocar Selena Gomes quando terminamos. Um sexo sem ser sexo, que não satisfez nenhum dos dois. Foi então que me ofereço a sair da casa, totalmente desconfortável.

         "Acho que seria melhor". Ela responde "Você que sabe"

        Constrangido, fecho meus olhos enquanto abotoo as minhas calças. Foi ali que pensei em você, o que estava fazendo ali. Coloco os meus sapatos, abotoo minha camisa, ela continua no Facebook.


        Me viro e fico pálido. O que foi aquilo? 

        Me levanto, ela se veste sem entusiasmo e me leva para a cozinha.

       "Não quer tomar banho?"

       "Não, vou pra casa. Me desculpe"


        00h00. Tique taque, minha cabeça bate como as teclas dessa máquina de escrever.

       

Insônia

       Não quero mais escrever sobre você, mas a minha memória insiste em te pintar sorrindo quando estou de olhos fechados. Acordo suado, abro a janela e penso em acender um cigarro, mas como parei com o fumo, olho para o lado e vejo o poste luz apagado;

      Não existem estrelas no céu, e ainda meio agoniado, puxo uma camiseta amarrotada do cesto de roupa suja, saio de casa para não te ver. Vou ao  Subway e só consigo pensar em você. Senti sua falta às 02h20 da madrugada e foi quando pensei em desistir de tudo. Comia um sanduíche de peito de peru e bebia um refrigerante quente. Estava sem sono.

      Peguei o meu carro e andei pela cidade, estava procurando por você; Você já tinha partido, meus olhos estavam alertas. Estava escuro e enxergava melhor que durante o dia. Pensei que havia desistido de te amar, mas meu coração agoniado, agora batia fraco. Sem querer, desviei o volante e subi no meio-fio, quando dei por mim quase acerto o poste.

      Não havia ninguém, felizmente, ainda assim, eu senti sua falta para julgar o meu erro. Antes ontem do que hoje, quero te esquecer mas não te encontro para me dizer aquelas infelicidades que me disse pelo Whatsapp. Você me deixou sem sonhos e hoje tenho que sepultar aquela pessoa que costumava ser.

     Que ódio de mim mesmo por ainda pensar por você, 03h03 da madrugada, o celular acaba a bateria. Você estava numa balada de sábado enquanto eu de pijamas chorava num estacionamento vazio perto do lago.

     Você provavelmente já saía com outro homem que iria dormir na sua cama, aquela cama que fizemos amor tantas vezes e onde eu disse que te amava. Satisfeita, você me mandou embora. Sangue frio.

      Dormi naquela noite no mesmo lugar que foi o nosso primeiro encontro como namorados. Aquele shopping, dormi no estacionamento olhando para o lado, dormi inquieto, passando frio e olhando para o nada. Desisti de você, você me deixou sozinho para desbravar esse mundo, saindo com outros homens e se machucando sem se conhecer.

       Hoje você está numa praia do Rio de Janeiro, aproveitando o sol e nadando de biquíni, sem se lembrar o quanto que eu gostava de você. Foram as piores semanas que eu já tive, as semanas que reaprendi a gostar de mim mesmo quando você partiu,  dando desculpas prontas e  dizendo que não me desejava. Seja franca, se eu  fosse rico tudo seria diferente. Você não se aventuraria por aí, não massacraria meu coração e não fingiria não gostar de mim, mas eu não sou.

      Quando cheguei em casa, a enxaqueca me toma, me barbeio e vou dormir.  Para que? Por quê? Minha cabeça  gira, acordo chorando ainda pior do que quando dormi. Foi tolice imaginar que seria especial, mais tolice ainda foi ter acreditado que você me amava.

      São 10h10 quando recebo  visitas sem entusiasmo e saio de casa de novo,  vou à padaria comprar pães e saio sem um único trocado. A cabeça fica baixa, um cachorro desvia de mim, o  ônibus passa por mim puxando todo o vento e sol aparece forte. Meu estado é deplorável.

     Tomo café, o pão amanhecido com manteiga  não desce. As visitas são intragáveis e acabo indo tomar banho... Nós tomamos banho  juntos, você se lembra? Olha a  minha vergonha não encontrar você me entregando a toalha. Pedi para te esquecer de novo e me arrumei.


      Saí no domingo e fui correr o kart, esse era o  meu único presente  de aniversário. Uma corrida em L com um kart de 40cvs, o que seria de nós  se tudo fosse diferente?

      Cheguei em sétimo, na última curva bati o carro.  Fui desclassificado.


      Amanhã seria segunda-feira, e por sinal, meu aniversário. Será  que você lembraria ao menos disso? Provavelmente não, deixei o capacete e fui com a bataclava até o meu carro. Você gostava de correr na chuva  igual o Senna e dirigia melhor do  que eu.  Liguei o rádio, era nossa música.


      Fui para casa sem falar uma só  palavra...  E assim fiquei. Hoje esqueça que eu existi, não fomos mais do  que estranhos. Eu te amo, mas não gosto mais de  você.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Fotografia

      Fotografia é a escrita feita diante da luz, é o traço compilado no feixe de uma câmara escuro que registra uma fração da realidade. A máquina de fotografia não é isenta de falhas ou de erros no obturador, assim como o seu ator não deixa de ser um artista. Todos representamos quando pousamos numa fotografia, seja tentando parecer mais belos ou mais imponentes. A fotografia é a marca de um artificialismo realista, que nos engana ao pensar ser concreto, mas quando na realidade é subjetivo.


    O registro de imagem é um elemento de sobreposição da realidade que passa do passado para a prosperidade como registro da própria história falada. Sem querer caímos no erro do realismo, e acreditamos que o que está registrado numa foto é realmente a comprovação da realidade. Aí que entra a montagem e enquadramento, dois elementos que podem ser feitos de maneira inocente ou não. Quando não é feito de maneira inocente é para reforçar ideologias ou ideias, na pseudocientificidade desta arte.

     Me admira o ofício do fotógrafo tanto quanto o do pintor ou do cineasta... Eles criam realidades a  partir do que observam empiricamente como o mundo. Uma alma delicada e uma percepção resoluta, concisa, torna a fotografia um ofício excepcional. Seja a fotografia que guardamos de nossos avós, seja a fotografia da timeline do Facebook ou de um antigo amor. O ofício da fotografia é também o ofício da recordação, recordar para viver. Por isso temos sempre que nos autoafirmar em fotografias.

    Em todo caso, somos infelizes os que amam a fotografia mas ela não nos aprecia na forma desejada. Ela é uma capa, um espelho e uma máscara. Ela nunca realmente compreende o ofício de nossas emoções, dos nossos pensamentos e dos nossos traços, ela apenas quer ressaltar uma forma sem conteúdo tornada hegemônica: Ver para crer, a episteme da autópsia.

      Como um médico ou um detetive procuram detalhes nos fatos, e nos indícios, quem analisa uma fotografia procura noções cognitivas de tentar compreender que aquilo é um fato concreto. Um paradigma do passado, seja uma fotografia de 1872 da Guerra do Paraguai, seja uma fotografia de criança na festa de 4 anos de idade, ou uma fotografia chamuscada e em preto e branco de uma pessoa desconhecida. Tentamos observar os fatos nos detalhes.

       Pessoalmente eu sou cético com a fotografia e apaixonado pela montagem, por isso que sinto o cinema como uma arte mais honesta que a fotografia.  O cinema tem proposta de entreter e divertir, mas também tem a proposta de ser uma arte, apesar de sua cientificidade e teoria (tão decomposta por Griffith  e Eisenstein), ela não se sujeita a tentar mostrar a realidade como ela é, mas como a realidade poderia ser.

       Apesar dessas considerações, o meio termo entre ciência e arte se encontra de forma ímpar na fotografia, assim como na arquitetura e na música:

      Essas três artes exploram de formas diferentes os campos das ciências aplicadas e da matemática, seja o ângulo de refração de uma lente que refrata uma luz, seja o cálculo de um seno utilizado para fazer uma abobada de Igreja ou uma equação matemática complicada sobre as ondas friccionadas da corda de um violão. 

     A ciência e a arte devem se unir sem se deformarem, a isso acredito que está a maior função do saber humano, congregar as forças do universo de forma pessoal e sutil para que as suas emoções não devam ser suprimidas pela realidade dos números. Por isso, fotografia deve ser respeitada como uma arte científica e uma ciência artística, na mesma proporção, feita com afeto e amor como tudo na vida deve ser feito.

    

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"

A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...